Mais um playoff, mais uma ficha - Crónica

A caminhada até ao Mundial começava precisamente há um ano, no dia 24 de março de 2021 a seleção portuguesa tinha o seu primeiro jogo num grupo tendencialmente acessível, onde o nosso maior rival seria a seleção sérvia. Ontem essa caminhada tinha o seu fim, com Portugal a garantir a sua qualificação para o mundial do Catar 2022 após bater a Turquia por 3-1 e a Macedónia por 2-0, dois jogos que, mais uma vez, ficaram aquém das expectativas.


Entre jogos de qualificação, amigáveis e o Europeu, o nosso engenheiro continuava a revelar-se incapaz de ter mãos para uma das melhores, senão a melhor geração que a seleção viu até hoje. Em termos individuais, a quantidade de diferentes opções que são oferecidas a Fernando Santos são surreais, mas mais surreal ainda é a inépcia deste para pôr esta equipa a praticar bom futebol. Fomos habituados desde o início a um estilo de jogo conservador, mais preocupado em defender bem e sofrer poucos golos do que chegar com critério a terrenos ofensivos e maximizar a capacidade individual dos seus jogadores, todavia foi este senhor que proporcionou a Portugal a maior conquista da sua história, o Euro 2016 e a Liga das Nações em 2019. 

Até à data de hoje o selecionador português, em quatro qualificações disputadas, duas para Europeus e duas para Mundiais, apurou-se automaticamente duas vezes e nas outras duas teve de recorrer aos playoffs, o que não é, de todo, louvável, sendo que fomos sempre a seleção favorita nos grupos que disputámos até ao momento. Em termos de grandes competições, na era de Fernando Santos a nossa seleção disputou dois Europeus, um Mundial, uma fase final da Liga das Nações e, futuramente, o Mundial no Catar. Na qualificação para o Euro 2016, a seleção portuguesa qualificou-se em 1º lugar com apenas uma derrota e sete vitórias, todas elas pela margem mínima, enquanto que para o Mundial 2018 fomos apurados em 1º lugar com apenas uma derrota e a mesma pontuação que a Suíça, 2 classificado e a única seleção ao nível da nossa nessa qualificação. Nas fases de qualificação para o Euro 2020 e Mundial 2022, onde, teoricamente, havia mais qualidade individual à disposição, Portugal foi incapaz de vencer seleções como a Ucrânia e a Sérvia, respetivamente, que ficaram à nossa frente na classificação.

Fernando Santos disputou a primeira fase final por Portugal em 2016 e abria as hostilidades com chave de ouro. Chegávamos ao  Europeu em França como favoritos do grupo, mas fomos insuficientes para equipas como a Áustria, Hungria e Islândia, conseguindo 3 empates e garantindo a qualificação como um dos quatro melhores terceiros dos grupos. Até à final só vencemos um jogo durante os 90 minutos na meia final contra o País de Gales, o que revela a falta de poderio ofensivo e a insistência num jogo defensivo e numa constante espera pelo erro do adversário. Na final, com alguma sorte à mistura, num daqueles momentos que acontece uma vez numa vida, Éder resolveu o jogo com a seleção francesa naquele que será o golo mais icónico da história de Portugal. Dois anos depois, aterrávamos na Rússia para o primeiro mundial do engenheiro, onde voltávamos a perceber a inaptidão do nosso selecionador para as grandes competições, uma vez que éramos eliminados pela seleção uruguaia logo nos oitavos de final. A última grande competição disputada por Portugal foi o Euro 2020, disputado com um ano de atraso e um pouco por toda a Europa, devido ao aparecimento do Covid-19, Portugal chegou à Hungria para disputar o primeiro jogo da fase de grupos, grupo este com dois tubarões internacionais, a França e a Alemanha, onde acabámos por passar como melhor 3º classificado da prova, porém à chegada aos oitavos de final, contra uma seleção belga bem ao nosso nível, voltámos a cair cedo na competição.

Posto isto, ao dia de hoje, há uma panóplia de jogadores altamente evoluídos técnica e taticamente ao dispor de Fernando Santos e da sua equipa técnica, mas as suas opções aparentam recair sempre sobre os mesmos jogadores. Apesar da internacionalização de 57 jogadores até ao momento, não é visível a aposta noutros jogadores que podem trazer outro estilo de jogo à seleção, não há uma aposta concreta na passagem de testemunho de alguns jogadores e revela-se uma falta de confiança em jogadores jovens como Gonçalo Inácio, Matheus Nunes, João Félix entre outros, jogadores estes em grande forma nos seus clubes que não veem chegar a sua hora na seleção das Quinas.

Portugal grita por uma renovação no comando, novos ares, novas ideias e um futebol taticamente mais atrativo. Será este o último grande torneio de Fernando Santos ao comando da nossa seleção, ou até quando a conquista do Euro 2016 lhe dará saldo para permanecer como treinador principal?

Comentários